Sou eu, o sono

Oi Lucas,

 

Sou eu quem te escreve, o sono. Faz tempo que procuro a melhor forma de conversar com você mas ele, o danado do tempo, foi passando e preferi te escrever.

Percebi o quanto tens reclamado de mim e o quanto seus amigos dizem que está com “cara de sono”. Vamos esclarecer logo algo: eu não tenho cara nem face. Sou uma manifestação extra material. A única dimensão compartilhada entre eu e você é o tempo mesmo. Nem tentarei explicar as demais dimensões que vivo, dificilmente entenderias. Uma amiga nossa em comum, a saudade, até vive no seu plano cartesiano trivial, afinal, vejo que sentes saudades de lugares.

Mas não eu, eu vivo sem face e posição. Vivo transitando entre mundos etéreos e inimagináveis. Logo, no máximo, seus amigos podem falar que tens “cara de Gabriel”, seu irmão gêmeo.

Enfim, sem mais arrodeio, o principal objetivo desta carta é te pedir desculpas.

Então, desculpe-me.

Minha intenção sempre foi muito boa com você. Mas ultimamente tenho estado muito apegado a ti. Pela manhã percebo uma felicidade quando estás abraçado com o travesseiro e enrolado no lençol... acabo exagerando na sua dose diária de mim.

Você tem dormido pouco e isto, apesar de te deixar cansado, me deixa mais forte. Cansaço é tipo cocaína para mim, uma droga inquietante, recebo overdoses diárias e acabo exagerando na resposta em você.

A culpa não é só minha, porém assumo a parcela que me cabe neste quinhão de sonolência. Espero que faças o mesmo.

Não sou dedo-duro, mas, se eu fosse você, bateria um papo amigável com a preguiça. Ela anda de mau-humor e bastante braba. Você bem sabe como as meninas ficam quando estão irritadas.

Desculpe-me por me meter demais na sua vida, minhas intenções sempre foram as melhores.

Tenho certeza que vamos voltar a nos dar bem!

 

Um grande abraço onírico,

Seu Sono.

 

Sou eu seu sono

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