Sempre que chego na casa da minha avó para visitar,
sou recebido com abraço e elogios. Da última vez não foi diferente. A moça que
cozinha lá olhou para mim e falou “Nossa, você está parecendo aquele humorista
da TV”.
Por um misto de inocência, despretensão e ego, respondi
perguntando “É? Qual?”.
Cai na armadilha.
Foi o suficiente para ouvir uma
risonha frase da engraçadinha: “Lembro o nome não, mas é aquele que faz dupla
com o magro”. A moça saiu rindo. Tudo bem, ri também.
Mas foi ai que, no corredor, surgiu minha avó. Ela munida de
sua característica tranquilidade quase centenária. Abriu um sorriso ao me ver e
correu na super-velocidadezinha que seu pequeno corpo marcado pelo tempo
permite.
_Vó, eu estou gordo? - Substitui o "oi" por esta pergunta.
_Deixa eu ver. - respondeu ela com um olhar úmido que substitui qualquer sorriso.
Então, passou suas mãos, cada qual por um lado, ao meu
redor escolhendo o ponto de maior circunferência corporal Apoiou sua cabeça no meu
peito. Segurou sua respiração e fechou os olhos. Mordiscou seus próprios beiços
e acomodou seu ouvido em mim. Acho que foi para fazer uma alavanca pois, logo
depois, apertou o aperto mais forte que seus braços aguentavam. Ou talvez para
escutar melhor meu coração.
Neste momento, a mão direita encontrou-se com a esquerda.
Senti um sorriso surgindo em meu peito. Quando largou-me, vi
que era ela a sorridente.
_Meu netinho, eu consigo te abraçar! Você ainda não está tão
gordo assim não!
Tenho para mim que amor de avó mede muito melhor do que
qualquer balança ou fita métrica.
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